Agricultura Biológica

Definição

A Agricultura Biológica (AB) refere-se a produção de alimentos e outros produtos agrícolas com base em métodos de produção protectoras da natureza e tomando em consideração conhecimentos da ecologia e da protecção do ambiente. A AB tem como conceito base a teoria do sistema ecológico, que descreve o funcionamento via círculos de matéria e energia. Dai resulta a plantação rotativa.
O conceito do solo como organismo vivo que desenvolve a actividade de organismos úteis é central nesta definição. A criação animal é considerada como fazendo parte dum todo equilíbrio - solo, planta e animal.

Podemos dizer que a agricultura biológica tem uma filosofia “back to the future”, no sentido em que regressa a uma simbiose com o ecosistema, utilizando técnicas avanças, não invasivas e sustentáveis para aumentar a produtividade. Existem actualmente técnicas que permitem conseguir em agricultura biológica boas produções tanto em quantidade como em qualidade.



História

O movimento da “Lebensform” - Forma de Vida surge na Áustria no início do século passado em reacção aos problemas sociais causados pela urbanização e industrialização. Este movimento está a favor de um regresso a uma vida mais natural. As primeiras publicações a alertar para a necessidade da AB remontam a 1920. Referências importantes são “ O Edaphon” de Raoul Heinrich Francé e a “produção bio-dinámica” com base nas ideologia antroposófica de Rudolf Steiner, com base na qual se desenvolveu a primeira associação de produção biológica determinada “Demeter”.
A validade dos métodos de produção utilizados pela agricultura convencional tem sido cada vez mais posta em causa. Baseada na aplicação de adubo químicos e de pesticidas de síntese e num elevado consumo de energia, ela está, comprovadamente, a contribuir para uma rápida degradação da saúde humana, dos recursos naturais e do ambiente. Face a esta situação surge como alternativa a agricultura biológica que, ao invés de violentar a Natureza, utiliza técnicas que procuram cooperar numa abordagem mais holística, prestando grande atenção ás relações recíprocas entre o solo, as plantas e os animais.
Considerar o impacto social e ecológico do sistema agrícola tem sido uma crescente preocupação ao longo das décadas passadas. As palavras chave actuais “Protecção do Ambiente”, “Desenvolvimento Sustentável” e “Comércio Justo” estão intimamente ligados ao conceito da AB.

Os primeiros regulamentos legislativos em relação a AB surgem na Áustria e na França a volta dos anos 80. Entretanto outros 69 países do mundo implementaram tais leis. Em 1991, o Conselho Europeu de Ministros da Agricultura aprovou o Regulamento (CEE) n.º 2092/91 relativo ao modo de produção biológico de produtos agrícolas e à rotulagem dos produtos agrícolas e dos géneros alimentícios. A introdução deste regulamento era parte da reforma da Política Agrícola Comum da UE e representou a conclusão de um processo através do qual a agricultura biológica recebeu o reconhecimento oficial dos 15 Estados-Membros da UE na altura.




Características e Objectivos da AB

A AB abstêm-se de pesticidas, adubos minerais e produtos geneticamente alterados, que são utilizadas na produção agrícola comum de hoje em dia. Aos produtos vendidos como biológicos não são acrescentados aromas artificias, de colorização ou conservação. Na pecuniária biológica é proibido usar determinados rações para animais e a área mínima por animal é muito maior de que na produção animal convencional. A qualidade dos alimentos tem uma importância elevada, como diz um ditado popular: - somos o que comemos - , os adeptos da agricultura biológica acreditam que ao comer plantas e carnes saudáveis, também o homem mantém se mais saudável.
A empresa agrícola deve usar apenas recursos naturais, isto significa na prática, que a agricultura e a pecuária são interligadas. O adubo é orgânico, proveniente de animais. Em vez de pesticidas procura-se técnicas reguladoras naturais.
É dada grande importância a fertilidade do solo, até existem métodos de cultivo específicos como a Permacultura e o Ecoframing que procuram aproximar-se do crescimento natural, focando a criação de húmus (compostagem) e evitando arar o solo. A AB faz uso de uma multiplicidade de plantas, ao contrário da agricultura convencional que funciona sobretudo com monoculturas.
Quais são objectivo da Agricultura Biológica:

  • Produzir alimentos de elevada qualidade nutritiva, sem resíduos de produtos químicos tóxicos;
  • Minimizar a poluição que possa resultar de práticas agrícolas;
  • Interagir de forma construtiva e equilibrada com os sistemas e ciclos naturais. Trabalhar, sempre que possível, num ciclo fechado no que respeita à material orgânica e elementos nutritivos minerais;
  • Promover e desenvolver ciclos biológicos dentro do sistema de produção, envolvendo microrganismos, flora e fauna do solo, as plantas e os animais;
  • Manter e/ou aumentar a fertilidade do solo a longo prazo;
  • Contribuir para a conservação do solo e da água. Promover o correcto uso da água e a gestão racional dos recursos hídricos e da vida neles existente;
  • Utilizar recursos renováveis nos sistemas agrícolas organizados localmente, devendo as substâncias  ser reutilizadas ou recicladas, tanto na exploração agrícola como fora dela;
  • Reduzir ao mínimo o consumo de energia fóssil e utilizar recursos locais;
  • Dar todas as condições de vida aos animais que lhes permitiram atingir os aspectos básicos do seu bem-estar. Praticar métodos de pecuária que tenham em conta as necessidades fisiológicas dos animais e princípios éticos.
  • Manter a biodiversidade ( ou diversidade genética de espécies vegetais, animais e de microrganismos) dos sistemas agrícolas e do meio envolvente, incluindo a protecção dos habitats, de animais e de plantas selvagens;
  • Evoluir no sentido de uma cadeia de produção inteiramente “holística”, que seja ao mesmo tempo socialmente justa e ecologicamente responsável;


Prós e Contas

A agricultura convencional tem elevada produtividade, o que ajuda a alimentar a população mundial, que devido a explosão demográfica tem crescido de tal forma, que a agricultura tradicional já não teria capacidade de fornecer alimento bastante.
Contudo, em prol da produtividade a agricultura que hoje em dia ocupa por volta de 50% do território da União Europeia, traz consequências graves, tais como
Degradação E Contaminação De Águas E Solos
  • a erosão é possivelmente o maior problema ambiental causado pela agricultura convencional, afectando 16% da superfície da Europa. A área mediterrânea está especialmente afectada, entre 50-70% do solo, com risco de erosão de moderado a alto.
  • Os países industrializados (Europa e Norte América) possuem mais de 90% dos seus rios com concentrações elevadas de nitratos, sobretudo de produtos químicos; mais de metade dos lagos da Europa são eutróficos (processo de escassez de oxigénio) pela sobrecarga de nutrientes agrícolas e municipais.
  • No ambiente marinho, por exemplo, introduzem-se cerca de 20 milhões de toneladas por ano de hidrocarburos, provenientes da agricultura mas também de descargas municipais, indústrias, etc.

Degradação Dos Ecossistemas:
  • Provocado pelo uso excessivo de maquinaria, o número reduzido de variedades de cultivo, a escassa aplicação de material orgânica, o uso de águas com excesso de sais…
Efeitos Na Saúde Dos Agricultores:
  • Por exemplo, no Perú estima-se que há 100 mil trabalhadores agrícolas intoxicados por ano.
Efeitos Na Saúde Dos Consumidores:
  • Os resíduos de fertilizantes e adubos em alimentos podem representar riscos para a saúde humana. A discussão sobre os aspectos nefastos é controversa, uma vez que os valores de referência oficiais são  de facto raramente ultrapassados. Assim, pelos números e estudos oficiais, a maioria dos alimentos que podemos comprar não trazem riscos de saúde. Contudo, existem estudos científicos que por exemplo indicam que recém nascidos, que foram alimentos com produtos lácteos biológicos tem 64% de menor risco de doenças de eczemas.


Não obstante o desenvolvimento de técnicas modernas que possam substituir produtos químicos, etc, há um longo caminho a percorrer para que a agricultura biológica tenha resultados comparáveis e comercialmente competitivos aos da agricultar convencional. Os aspectos críticos da Agricultura Biológica são:
  • As quantidades de produtos agrícolas produzidas por hectare na AB são muito inferiores aos da AC.
  • Os custos de produção, e tanto assim os custos ao consumidor, são geralmente mais elevados, o que diminui a quota de mercado nas vendas.
  • Embora os adeptos de produtos bio afirmam que estes tenham melhor sabor, este factor não é cientificamente comprovado.
  • Embora os nutrientes de produção convenional e bio são equivalentes, uma comparação de 41 estudos cientificos publicada em 2001 demostra, que fruta, legumes e cereais bio contêm em média 27% mais de Vitamina C, 21% mais de Ferro, 29% mais de Magnésio, 14% mais de Fosforo e 15% menos de nitratos de que o alimentos convencionais comparados.
  • A preservação das espécies é uma problemática até mesmo na agricultura biológica, estima-se que até 95% dos produtos agrículos bio são provenientes de sementes híbridas ou seja geneticamente alterados.
  • Em relação a coexistência da AB e da agricultura convencional convém destacar, que é quase impossível evitar que haja invasão de produtos transgénicos na AB, causado por exemplo através do cruzamento com plantas transgénicas de campos vizinhos através do pólen de abelha ou pela mistura de produtos orgânicos durante o armazenamento ou transporte de plantas transgénicas.


Agricultura Biológica e economia mundial


A Agricultura Biológica tem vindo a ganhar uma importância crescente em muitos países, independentemente do seu grau de desenvolvimento.
Muitos países despertaram mais cedo do que Portugal para os riscos dos alimentos produzidos a partir de químicos sintetizados. Nesses países, aquilo que começou por ser uma produção marginal caminha a passos largos para se tornar substancial.
Casos paradigmáticos são a Alemanha e os EUA, onde a produção biológica representa já valores significativos. Na Suíça e na Áustria representa dez por cento do sistema alimentar. França, Japão e Singapura têm taxas de crescimento superiores a vinte por cento. Itália é, neste momento, o país europeu com a maior área de agricultura biológica, 960 mil hectares.
A União Europeia publica anualmente estudos Dados e estatísticas

Este relatório fornece uma panorâmica do desenvolvimento da agricultura biológica nos últimos anos. Baseado na informação estatística do Eurostat e noutras fontes, analisa áreas biológicas certificadas e em conversão, números de explorações certificadas e em conversão, dados de áreas de cultura, produção animal, canais de comercialização e vendas de produtos biológicos, preços ao nível do produtor e do consumidor e, finalmente, programas agro-ambientais que apoiam a agricultura biológica.
Para mais informações, queira visitar a base de dados Eurostat relativa à agricultura biológica que inclui dados sobre operadores, áreas de culturas, produção de culturas, produção animal e produtos de origem animal.





Realizado por Xavier Salvador